Led Zeppelin: Rock Chronicles

LED ZEPPELIN: ROCK CHRONICLES

Fonte: Whiplash.net
Traduzido por Marco Néo | Publicado em 02/01/08
Estou sentado dentro do Ceasar's Chariot, o jato Boeing 707 estilizado do Led Zeppelin. Apropriadamente batizado com o nome do imperador conquistador que foi derrotado por um vício por sua própria glória, esta fortaleza voadora agora carrega uma força musical invasora dos dias atuais. O Zeppelin acabou de aniquilar uma platéia lotada de festivos pagãos em St. Louis.

Texto original de Steven Rosen
Quando: 1977
Onde: Chicago, Illinois (hotel e avião)
O quê: a experiência mais estranha que já tive.

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Estamos voltando pra Chicago, onde a banda montou sua base de operações, a cidade que será o ponto de partida para as próximas semanas. Nas duas turnês anteriores, em 1973 e 1975, eles adotaram uma estratégia similar de se posicionar em um lugar e depois viajar para os concertos, sempre de um ponto central. É o refúgio apenas para o maior e mais poderoso dos grupos. E foi idéia do tour manager Richard Cole, primeiro-em-comando de Peter Grant (Nota: lendário empresário do Led Zeppelin) e "arruma-tudo" de longa data."Esta vez (a turnê de 1977) não foi muito diferente de '75. Foi o mesmo processo de trabalho, sabe. Tínhamos nosso jato 707, e eu só tive que planejar quais cidades estavam ao alcance de Chicago. Foi mais fácil, sair às 3, ou 4, ou 5 da tarde, entrar no nosso avião e voar direto pra cidade em que a banda tocaria. Foi especificamente porque para nós era muito melhor e mais confortável nos basear em uma cidade e viajar pra lá e pra cá. E sair logo após o show e voltar pra Chicago."
E é pra Chicago que estamos indo agora, de volta ao "Ambassador East Hotel". Fui seqüestrado pra lá por onze dias, uma semana e meia de excessos desmedidos e murmúrios obscuros. Uma coisa equilibra a outra. O avião, por exemplo, foi adaptado para acomodar um bar, dois quartos, um sofá e um órgão Hammond. O luxo vem com um preço desconfortável - 2500 dólares por dia de taxas. Ainda assim, em meio a toda essa opulência, não dá pra deixar de notar como John Bonham se arrasta pela cabine, uma garrafa de alguma coisa em sua mão, saudando todo mundo que encontra com um mal disfarçado desprezo.

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Bonzo passa por mim e eu não ouso fazer contato visual. Essa é uma das várias instruções que me foram passadas. Eu ainda estou com a fivela do assento presa, tentando me passar despercebido e tentando assimilar tudo o que vivi nesta última semana. Somente alguns dias antes me foi concedida minha primeira audiência com o guitarrista. Eu já estava achando que isso nunca iria acontecer. Mas o telefone do meu quarto tocara numa certa manhã e uma voz me informou que Jimmy me veria naquele instante. Enquanto eu era conduzido - não nos era permitido andar dentro do hotel sem uma companhia - até a suíte espetacular onde Page estava hospedado - vários cômodos espetacularmente mobiliados - era impossível não notar o telefone quebrado, o buraco na parece e uma garrafa de Jack Daniels pela metade no criado mudo. Sinais denunciadores de um colérico jovem músico. Ele iria dar umas tragadas naquela garrafa em intevalos regulares durante nossa conversa. Seu discurso iria se tornar crescentemente trepidante e deliberado, mas tudo isso era mais do que simplesmente um guitarrista ficando bêbado no começo da tarde. Estamos em 1977, na décima-primeira turnê do Led Zeppelin pelos Estados Unidos, e os hábitos etílicos de Jimmy Page a esta altura já foram bastante documentados. Não, há mais, uma corrente escondida de raiva em cada palavra lentamente murmurada. Como se ele estivesse numa constante posição de auto-defesa ou mesmo paranóia. De fato, ele arrancou o telefone da parece porque se sentiu invadido e não queria ouvidos espiões o incomodando."Eu tenho dois enfoques diferentes", Jimmy explicou, enquanto se ocupava com os restos do aparelho de telefone quebrado. "Quer dizer, no palco o enfoque é totalmente diferente do meu enfoque no estúdio. No Presence, eu controlei todos os fatores que contribuíram para o disco - eu adorei o fato de que ele foi gravado em três semanas e tudo o mais. Foi bom pra todo mundo na verdade, mesmo que tenha sido um ponto de ansiedade, e a ansiedade se mostra por todo o grupo, sabe. 'Será que Robert voltará a andar depois do acidente de carro na Grécia?' e coisas do tipo (em 4 de agosto de 1975, Robert, Maureen, irmã de Plant, e os filhos do guitarrista e do vocalista estavam em um carro alugado que perdeu o controle; Robert ficou com um tornozelo e um cotovelo quebrados e as crianças ficaram severamente machucadas e traumatizadas)."
Obviamente, Jimmy ainda sente a dor desse acidente quase fatal. Assim sendo, a turnê em 1977 começa embaixo de uma nuvem negra. Esta é apenas uma pequena amostra do drama recorrente que irá assombrar todos os aspectos da operação. Ninguém percebe, mas esta será a marcha final do quarteto pela América, o canto de cisne do grupo.
Na hora de embarcar para o vôo de retorno, Janine Safer, assessora de imprensa da Swan Song, me instruiu o que pode acontecer no vôo de hoje à noite - a importante seqüência. Você se dá conta, mesmo antes disso, que a máquina do Zeppelin está bem azeitada e funcionando perfeitamente. A programação é mantida e rigidamente seguida. Se algo vai acontecer é porque o Zeppelin quer. Eles têm total controle sobre seus destinos e sobre os destinos de todos que os rodeiam. Então, quando a assessora de imprensa informa que você tem 15 minutos para serem espremidos durante uma viagem que só dura 30, você obedece a ordem.
De fato, após alcançar a altura de cruzeiro, eu sou acompanhado até a parte de trás do avião. Safer está no ponto, um segurança monstruoso a segue, e a mim, e outro segurança levanta a parte de trás. Toda essa precisão militar me faz sentir, mais do que qualquer outra coisa, como se eu fosse um homem morto andando. E logo eu vou entender o porquê. Eu saúdo Jimmy (é difícil dizer se ele me reconhece de alguns dias antes ou não), me sento e começo a falar. Enquanto eu estou curvado, tentando ouví-lo em meio a todo o barulho do avião, sinto alguém me tocar no ombro. Eu estou começando a pensar como passaram rápido esses quinze minutos quando eu fou fisicamente levantado do assento e violentamente virado para o outro lado. De pé, na minha frente, está um realmente irritado John Paul Jones.
"Rosen, seu mentiroso do caralho, eu devia te matar"!
O veneno em sua voz me abala. Eu sinto como se estivesse tendo uma experiência fora do corpo. Mas toda vez que eu fecho meus olhos e os abro de nvo, eu ainda estou ali, de pé em um avião voando a 900 km por hora, esbarrando em um destino que eu sei que não quero alcançar.

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O que torna tudo mais irritante é que John Paul e eu passamos uns bons momentos juntos dois dias depois que eu cheguei. Sem Jack Daniels, sem mobília quebrada. Somente um baixista de voz mansa falando pra mim sobre sua vida."Na primeira vez, nós nos encontramos em uma salinha só pra ver se conseguíamos nos suportar. Eram muitos amplificadores, todos terríveis, todos velhos. Jimmy disse: 'você conhece uma música chamada The Train Kept A-Rolling?' Eu disse não. E ele disse, 'é fácil, só dó e si.' Ele fez a contagem e a sala explodiu, e dissemos 'Certo, estamos dentro, vai rolar!' E começamos dali. Hoje em dia eu não estaria fora do Zeppelin por nada."
E eu acreditei nele. Não dava pra não acreditar nele. Led Zeppelin era sua vida e paixão e ele sempre protegia a banda daqueles que tentavam arruiná-la. Ele estava falando de críticos principalmente, jornalistas que sempre diziam o quanto admiravam a banda, viravam as costas e escreviam resenhas destruidoras. E aqui, me confrontando, está toda essa paixão que se torna venenosa. O baixista enfilera xingamentos e chega até a fazer um gesto que pode ter implicações físicas. Ainda que eu nunca tivesse participado de uma briga em minha vida, suas ameaças veladas não me causam muito alarme. John Paul, eu senti, era alguém que eu conseguiria segurar. Não, é a montanha de músculos atrás dele - os seguranças - que me fazem parar. Eles me lançam olhares que podiam ser traduzidos em uma simples mensagem: faça o mais leve gesto em direção ao homem à sua frente e o que vai acontecer depois será um dos momentos mais desagradáveis que você jamais irá experimentar.
Àquela altura, é difícil determinar se é mais o medo ou a vergonha que me deixou sem fala e imóvel. Mas, não, é o medo, definitivamente o medo. Enquanto os momentos de lucidez vêm e vão, eu tento imaginar o motivo pelo qual Jonesy virou suas atenções pra mim. É nesse momento que eu vejo, na sua mão direita, uma cópia da revista Rock Guitarrists. É uma compilação de histórias da Guitar Player publicadas nos últimos anos. Ele enrolou a revista e agora fica batendo com ela na palma de sua mão esquerda. Eu escrevi a história sobre Jeff Beck que ilustra a capa e trouxe cópias para ele e para Jimmy. Ofertas de paz. Ambos conheciam Jeff, é claro, e eu pensei que esse gesto fosse me apresentar como um escritor com um pouco de moral nas ruas. E naquele terrível segundo, aquilo me acerta - não, não a revista enrolada - mas a constatação: eu pisei na bola com Jonesy porque eu traí sua confiança. Repetidamente eu lhe disse o quanto me sentia honrado de estar na estrada com ele. E eu sei que ele acreditou nisso - até que ele leu o que escrevi. Aquilo que me trouxe até aqui vai me enterrar. Eu fui avisado. No exato dia em que cheguei, as regras me foram colocadas. E agora, apenas onze dias depois, eu já quebrei a quinta regra. O pior, ele imediatamente exigiu que todas as fitas com as entrevistas fossem devolvidas. Eu instantaneamente obedeci.
Credite isso à inexperiência - e talvez a não pouca estupidez. Nesse ponto, eu estava fazendo freelances por uns três anos apenas, trabalhando em vários jornais locais e regionais. Fiz o que pude e enchi o saco de revistas como Creem e Circus. E então, em dezembro de 1973, a Guitar Player, após rejeitar várias ofertas, finalmente aceitou um questionário feito com Jeff Beck e o utilizou como matéria de capa daquele mês. É esta a história - a primeira que eu escrevi para a Guitar Player - que deixou Jones louco. Foi o meu começo como um escriba novato. E aqui, agora, todo esse trabalho duro havia culminado com a oportunidade de uma vida. Após quase um ano de telefonemas para os escritórios da Swan Song em Nova York, finalmente me foi concedido um contato com o Led Zeppelin. Me seria permitido viajar com a banda em seu jato privativo e ficar com eles no mesmo hotel. Após tudo isso, de chegar tão perto, eu ia sair de mãos vazias. Ou com um dedo quebrado - o que dá no mesmo.
Já já a história com John Paul Jones acaba, mas para colocar os fatos na devida perspectiva, é essencial que se entenda o monstro que era o Led Zeppelin. Por volta de 1977, o quarteto não tinha mais o que provar nem ninguém para quem não tivesse provado algo. Em 30 de abril daquele ano, a banda havia estabelecido um novo recorde mundial para a maior platéia pagante em um show de um único artista. Eles levaram 76.229 pessoas a um concerto no Silverdrome, em Pontiac, Michigan, e ganharam impressionantes 792.361,50 dólares (também um recorde). As entradas para o concerto acabaram em um dia.
No ano anterior, o Led Zeppelin havia sido aclamado como a Melhor Banda na votação dos leitores da revista Circus. Page chutou Jeff Beck e Brian May alguns degraus abaixo na escada de popularidade para manter seu status de melhor guitarrista. Robert Plant foi votado melhor vocalista masculino e Plant e Page foram escolhidos a melhor equipe de compositores, batendo Elton John e Bernie Taupin.
Também em 1976 o grupo lançou Presence, um álbum que realmente revelou a complexidade musical da banda (ainda que não tenha vendido tremendamente bem). E mais tarde naquele mesmo ano foi lançada a trilha sonora de "The Song Remains The Same", o filme que revelou a personalidade através da indulgência. Esse hedonismo seria levado a extremos ridículos na turnê subseqüente.
Desnecessário dizer, ali estava uma banda que vivia a vida como super heróis. Eles eram bajulados e tratados como reis e não conseguiam ver, ou se recusavam a tanto, que estavam sendo devorados pela máquina que criaram. Ainda assim, quando alguém estava com eles, essa pessoa acabava também se tornando parte dessa aventura mastodôntica.

Steve Rosen com Jimmy Page
Steve Rosen com Jimmy Page
"Eu tenho certeza de que todos nós nos sentimos invencíveis nessa turnê", explica Gary Carnes, responsável pela equipe de iluminação. "Ao ser associado com o Led Zeppelin, parecia impossível não sentir um falso senso de poder. Eu tenho certeza de que a banda sentia isso também e eu sei que todos da equipe de turnê tinha um sentimento de invulnerabilidade".No dia em que cheguei, uma limusine preta foi mandada ao aeroporto pra me buscar. Após uma taça de champanhe, eu, também, senti as asas começarem a crescer. Janine Safer, a assessora de imprensa do grupo, me acompanhou e, no caminho para o hotel, ela me falou das cinco regras de compromisso:
Regra 1. Nunca fale com ninguém da banda a menos que eles falem primeiro com você.
Regra 2. Não fale com Peter Grant ou com Richard Cole - por qualquer razão.
Regra 3. Mantenha seu gravador sempre desligado, a menos que esteja realizando uma entrevista.
Regra 4. Nunca faça perguntas sobre outros assuntos que não a música.
Regra 5. A mais importante, entenda - a banda irá ler o que foi escrito sobre eles. A banda não gosta da imprensa. É essa regra que causaria minha ruína.
Não havia muito o que ser mal interpretado. Parecia bastante simples. Eu hesito por poucos momentos antes de dar a Janine duas cópias de uma edição especial da revista Guitar Player. Eu as trouxe comigo porque eu imaginei que elas arrefeceriam um pouco os ânimos da banda. Mal eu sabia. Ela me disse que as entregaria pessoalmente a John Paul e a Jimmy.
Eu cheguei durante a primeira parte da turnê pelos Estados Unidos. Ela começou em 1.º de abril - dia da mentira - em Dallas, no Texas, e não obstante as platéias recordes e as altas somas em arrecadação que viriam, tudo parecia ofuscado por um vidro escuro. Ninguém consegue apagar o quase desastroso acidente de carro de Plant, ocorrido alguns anos antes e agora a invasão de 51 shows por 30 cidades começa com um mês de atraso por causa de uma tonsilite contraída pelo vocalista. Além disso, Peter Grant sofreu com a afronta de ser abandonado pela esposa. Com tudo isso, não demorou muito para que o "Quarteto Fantástico" comecasse a sucumbir ante o clima terrível que o cercava. Após a segunda apresentação da banda, em Chicago, Page ficou doente, com o que Jack Calmes chamou de "rockin' pneumonia". Jack Calmes é o chefe da Showco, a companhia que forneceu luzes, som, palco e logística para a turnê.
"Havia um acúmulo extraordinário de tensão no começo daquela turnê", lembra Calmes. "Começou de forma negativa. O clima estava definitivamente muito mais carregado do que em qualquer outra turnê anterior (a companhia de Jack participou das turnês de 1973 e 1975). O nível das pessoas que eles tinham ao redor deles tinha decaído para o de criminosos. Eu acho que Richard Cole e talvez alguém da banda e todo mundo ao redor dela estava tão atolado nas drogas naquela altura que as drogas se voltaram contra eles. Eles ainda tinham seus momentos de grandeza, mas alguns shows foram não muito focados e certamente não muito inspirados".
De fato, das quatro ou cinco apresentações que eu testemunhei, a banda sentiu como se estivesse apenas cumprindo tabela. Ainda que não houvesse banda de abertura, e eles normalmente tocavam por mais de três horas, a música não tinha vida, não tinha emoção. Muitas das pessoas que foram a essas verdadeiras maratonas acabaram ficando incontroláveis, atirando fogos de artifício e outros lixos no palco. Eu vi mais de um integrante da "entourage" do Zeppelin pegar alguém que estivesse ofendendo a banda e arremessá-lo para fora.
Gary Carnes, o chefe de iluminação da Showco, assistiu de camarote a cada uma das apresentações. Sentando no palco a uns três metros do guitarrista, ele ouviu conversas, em voz baixa, entre Page e Plant.
"Eu ouvia o que eles conversavam. Quase sempre Robert anunciava uma música e Jimmy chegava perto dele perguntando 'Robert, como é que é essa música mesmo?' e Robert meio que virava e começava a cantar o riff para ele. E Jimmy falava 'oh sim, sim, lembrei, lembrei'. Ou então Robert anunciava uma música e Jimmy começava outra. E também as vezes em que Jimmy não conseguia se lembrar como era a música, era muito, muito raro, mas acontecia".
Além desses problemas dentro das arenas, quase toda noite havia notícias de fãs enlouquecidos do Zeppelin do lado de fora se envolvendo em pequenos confrontos com as polícias locais. Antes do show de St. Louis, eu testemunhei fãs furiosos - mas sem entradas - tentando furar as barricadas. Devotos do Zep gritavam e jogavam latas de cerveja e geralmente se envolviam em lesões sem maiores conseqüências. Durante uma chegada, Peter Grant saiu de sua limusine e foi em direção a um pelotão de policiais que seguravam uma multidão de pessoas tentando derrubar os portões. Ainda que eu não conseguisse ouvir especificamente o que o rotundo manager estava dizendo, suas ações eram cristalinamente claras. Ele chamou vários dos seus próprios seguranças e os enviou em direção aos policiais. Grant queria ter certeza de que ninguém entraria no concerto sem um ingresso.
Peter Grant, ex-leão de chácara e ex-lutador, era, em muitos aspectos, a personificação de um zepelin de chumbo (N.: ou um "lead zeppelin", alusão evidente ao nome da banda). Medindo por volta de 1m90 e pesando mais de 130 quilos, ele usava sua presença intimidativa para manter tudo certo e para ter certeza que suas ordens seriam obedecidas sem maiores problemas ou preocupações. Ele era protetivo, e por volta de 1977, insanamente super-protetivo. Ele isolava a banda o quanto podia, daí o avião particular e a hierarquia ritual de segurança, mão-de-obra e entourage. Ele não admitia insubordinação nem mesmo de seu próprio pessoal, e com gente de fora o seu senso de justiça era imediato e não necessariamente justo. Sua motivação era simples - proteger a banda e suas finanças. Quando um "bootlegger" (N.: pessoa que gravava shows para posterior venda, de forma não oficial, i.e., sem autorização da banda ou da gravadora) ou um fotógrafo não autorizado era identificado, era imediatamente conduzido para fora do local com uma mera reprimenda verbal e confisco de camisetas não autorizadas e filme ou fita. Eu nunca vi um incidente mais grave relacionado a isso, mas me contaram sobre um.
"Eu levei os planos e tudo o mais para a Inglaterra, para a banda, antes do começo desta turnê", lembra o presidente da Showco, Jack Calmes. "O escritório deles era na Kings Road, mas passavam a maior parte do tempo no pub. Mas nós tivemos uma grande reunião no escritório de Peter Grant e eles disseram: 'OK, Calmes (pronunciando propositalmente seu nome como 'Calm-us', em vez do correto 'Cal-mees, para imitar o 'sotaque' londrino), o que você preparou para esta turnê?' Eu então levantei e fiz minha apresentação e mostrei pra eles vários efeitos muito legais de luz e laser e disse que o custo seria de 17.500 por show. A sala ficou quieta como num velório. Eles meio que olharam para a janela e Bonham foi até lá e a abriu, como se eles fossem me jogar janela abaixo. E eles deviam ter feito isso. Daí, depois que todo esse drama se prolongou pelo que me pareceu um longo tempo, eles começaram a gargalhar. Porque eu tenho certeza de que parecia estar a ponto de cagar nas calças."
O humor do Zeppelin. Bem, ninguém riu quando John Paul Jones confiscou minhas fitas. Eu entendo a apreensão de Jack porque o vôo de volta pareceu interminável. Nós retornamos ao Ambassador East, eu fiz minhas malas e me preparei para um vôo para Los Angeles na manhã seguinte. Seguranças carrancudos me disseram que eu não era bem vindo e eu rapidamente me afastei. Janine veio até meu quarto e me encorajou a falar com John Paul, para tentar explicar o meu lado da história. Eu desci até sua suíte, bati e, assim que a porta foi aberta, eu fiquei branco, minha língua encolheu e eu fiquei lá, mais uma vez, como um idiota. Por precaução eu escrevi uma carta. Eu a entreguei, ele pegou e me chocou ao me devolver minhas fitas. Ele me disse que eu era um bosta de quinta categoria e o pior escritor que ele já tinha lido, mas que eu tinha uma responsabilidade para com a revista.
Eu escrevi a história, que foi capa da edição de julho de 1977 da Guitar Player. Foi uma matéria ótima e, ainda que eu desejasse que ela fosse mais longa, eu fiquei bastante feliz com ela. Page estava na capa e o enfoque principal foi em John Paul.
Certa noite, cerca de um mês após a viagem com o Zeppelin, eu estava no clube Starwood, em West Hollywood. Eu estava sentado juntamente com meu irmão Mick, assistindo o Detective, uma banda que o selo Swan Song estava contratando. Mick me disse que John Paul Jones estava no canto da sala e vinha em nossa direção. Eu havia falado pra ela sobre o encontro e eu sabia que ele só estava enchendo o meu saco. Eu então me viro e, mais uma vez, Jonesy me confronta. Eu fico sem saber se assumo uma posição de boxeador ou o que quando ele estende a mão pra me cumprimentar, num gesto amigável. Ele leu minha carta e entendeu que o que eu havia escrito naquela história sobre o Jeff Beck foi criada por um jornalista ainda inexperiente. Ele amou a história. Nós nos abraçamos.
Não que seja imporatnte, mas o trecho ofensivo tinha sido: "um contemporâneo de Beck, Jimmy Page falhou em tentar recriar a mágica de sua época como guitarrista dos Yardbirds. O Led Zeppelin começou como nada mais do que uma reprodução grandiosa do trabalho de Beck"... e por aí vai. Foi estúpido e ridículo e até hoje eu tenho vergonha de ter assinado essa matéria.
Jones estava na cidade para ver o Detective e para tocar por seis noites no Inglewood Forum, outra quebra de recorde. Após Los Angeles, a banda voou para Oakland para as últimas datas da turnê. Se não havia significado atribuído à praga do Zeppelin, o que aconteceu no Norte da Califórnia certamente deu mais combustível para o mito. Foi uma forma terrível, obscura e nefasta de acabar as coisas. Jack Calmes estava lá e descreveu a violência da última dança do Zeppelin.
"Eu estava parado na frene do trailer quando tudo aconteceu. O filho de Peter Grant (Warren), um moleque meio que mimado, estava lá, e entrou em uma área proibida e um dos guardas de Bill Graham meio que o tirou de lá. Ele não o machucou nem nada. Os irmãos Bindon e Peter pegaram esse cara, o levaram a um dos trailers e bateram até não querer mais. Eu não estava dentro do trailer mas eu estava do lado de fora e esse guarda era bem do tipo durão e eles o estavam fazendo em pedaços lá dentro. Pelo que eu soube tentaram arrancar um dos olhos do cara, o negócio foi realmente pesado. John Bindon, que participou disso, mais pra frente acabou matando um cara e pegou prisão perpétua."
"Os irmãos Bindon eram ladrões que eram amigos de Peter Grant e o acompanharam nessa turnê como seguranças. E eles acabaram trazendo um clima ruim para a turnê. A única coisa de que eu me lembro sobre John Bindon é que nós estávamos no The Roxy (em Los Angeles, antes dos shows de Oakland) e ele estava no canto de trás, com o Zeppelin e ele estava com seu pau pra fora, balançando o pau pra umas cinqüenta pessoas que estavam olhando".
"É, pouco depois disso John Bindon esfaqueou um cara no coração; soa como uma dessas situações contadas em músicas de blues."
Richard Cole, outro dos chefões, continua a história.
"Quando a banda terminou o show, Peter foi atrás do cara com Johnny Bindon. Eu fiquei do lado de fora da caravan com uma barra de ferro, para ter certeza de que ninguém entrasse e os visse, porque as pessoas estavam procurando Granty e Bindon naquela época. No dia seguinte, nós quatro fomos presos. Felizmente tivemos sorte porque um dos nossos seguranças conhecia um dos caras da equipe S.W.A.T. e disse para eles: 'esses caras não são perigosos, eu trabalho para eles há anos'. E então eles concordaram e pediram para que Peter, John Bindon, John Bonham e eu fôssemos encontrá-los. Eles nos algemaram, nos levaram para a cadeia e nos soltaram depois de mais ou menos uma hora. E nós saímos."
E realmente, se a saga do Led Zeppelin fosse cantada em um blues não terminado, esse ainda não seria o verso final. A turnê de 1977 teve um efeito terrível em todo mundo e tudo o que todos queriam depois do seu final era a maior distância possível entre si e todos os outros músicos envolvidos. Após esse episódio em Oakland, os membros se separaram: John Paul ficou na California e foi acampar com sua família; Jimmy e Peter ficaram em São Francisco; Bonzo, Cole e Plant foram para Nova Orleans, onde seria o próximo show. Apenas algumas horas após eles chegarem no hotel Royal Orleans, Robert recebeu um telefonema de sua esposa. O último verso estava sendo escrito.
"O primeiro telefonema foi para dizer que o filho dele estava doente", descreve Cole. "E o segundo telefonema, infelizmente, foi para informar que Karac havia morrido.
A música nunca mais seria a mesma (N.: no original, "the song would never again remain the same", alusão à música presente no álbum "Houses of the holy"). Em 1979, a banda tocou alguns shows no Falkonerteatret, na Dinamarca, para se aquecer e, em agosto, os dois shows históricos em Knebworth. Um ano depois, em 24 de setembro de 1980, John Bonham seria encontrado morto, resultado de uma overdose. Ele estava na casa de Page.
"Eu nunca me esquecerei das últimas palavras que ouvi Robert Plant dizer", resume o diretor de iluminação Gary Carnes. "Seria o meu último show com eles, meu 59.º show com eles. Eu estava no palco, era o segundo show em Knebworth. A banda havia acabado de tocar 'Stairway to Heaven'. Robert estava parado, olhando aquele mar de fãs com isqueiros acesos. Havia cerca de 350.000 pessoas na audiência. Foi um momento mágico, místico. Ele então andou até a beirada da parte mais baixa do palco com o microfone. E, de novo, ficou lá olhando. E então ele disse 'é muito, muito difícil dizer... Boa noite'. Foi uma cena encantadora de se testemunhar. Eu nunca vou esquecer aquele momento".
Traduzido de: Ultimate Guitar

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